3.5.08

Auto-análise, parte n

Definir algo como "mediano" soa bastante melhor que "medíocre". A performance em Gravataí foi, portanto, mediana. Não consegui fazer a seleção ("make the selection", traduzam como quiserem) no serrito onde 8 atletas escaparam, mas fora isto, não posso me queixar do desempenho nos 140km da primeira etapa, tendo inclusive atacando diversas vezes próximo da chegada, infelizmente sem sucesso. Fiquei um tanto decepcionado com a performance no contra-relógio - tão logo iniciei minha corrida nos 6km daquela etapa, senti que as pernas não corresponderiam, ainda impregnadas do ácido láctico produzido pelo esforço do dia anterior. Ainda assim, fiz o 7o melhor tempo, com direito ao comentário jocoso que fiz ao meu pai tão logo meu tempo foi superado: "Pelo menos eu nunca fui suspenso por um exame anti-doping.." Rogelin e Nilceu que o digam... Na etapa de circuito, estava contente em andar junto com o pelotão e defender minha posição no top 15 da classificação geral, quando no meio da prova, levei meu câmbio dianteiro a cometer suicídio, o que me levou mais cedo para o chuveiro. "Live to fight another day", escrevi.

O ponto que me deixou bastante meditativo, porém, foi o fato do campeão brasileiro, usando uma bicicleta de estrada sem auxílios aerodinâmicos, ter cronometrado um tempo quinze segundos mais rápido que o meu, com minha magnífica Cervelo, ainda que realmente eu não estivesse em um dia bom. Nem quero entrar no mérito das substâncias que ele poderia estar consumindo; tem vários amadores aqui do estado que tomam isso ou aquilo e isso já não me incomoda. O ponto que faço aqui se refere à disputa de um atleta amador que treina talvez 10 ou 15 horas por semana contra um profissional que é pago para fazer isso e provavelmente tem o dobro de tempo no selim. Estaria eu dando murros em ponta de faca? Apesar da constatação da dura realidade, não se alteraram em nada meus objetivos. Ainda pretendo ir para o Brasileiro lutar pelo melhor resultado possível.

Iniciei uma divagação sobre a dualidade, ou a pluralidade, o conciliar de mais de uma atividade de alto nível em uma vida de outra forma normal. Só na montagem desta frase já tenho diversos ganchos para puxar: o que é conciliar? Encaixar as atividades nas 24 horas do dia é plenamente possível, mas descobri há tempos que não funciono sem alguns obrigatórios momentos ociosos. De alto nível? Quão alto é alto o bastante? Ganhar corridas no certame amador é só médio, certo? E a produção científica? Preciso ter um artigo na PRL para poder considerar meu trabalho de mestrado como "de alto nível"? Por fim, uma vida normal - sob os parâmetros de quem?

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Minha Renn 575, a roda fechada que encomendei para correr o Brasileiro, chegou na casa do Benjamin. Estou agora a tratar da melhor forma de trazê-la para cá. Me lembrei daquela clássica pergunta, "Casar ou comprar uma bicicleta?" - a resposta que escolhi parece ser bastante óbvia :)

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