28.2.08

whiskas@de3 #4

Das ging ja so schnell... Voltei para Erlangen na segunda-feira à noite, encontrando o Pedro na cozinha preparando uma massa com molho de queijo - assim dá gosto de voltar "pra casa" :-). A massa foi acompanhada de uma cerveja e muita conversa, naturalmente. Ainda terminei a montagem de bicicleta, antes de dormir já bem depois da meia-noite.

Terça-feira saí para pedalar com o Benjamin e estrear a Cervélo. Como toda primeira pedalada, nos primeiros 10km tive de parar quase 10 vezes para ajustar aqui e ali a altura do selim, o ângulo do guidão, a tensão dos cabos do câmbio, etc. Mas ela rodava com uma suavidade impressionante - além do feeling único que só as bicicletas de contra-relógio tem. Fomos até o centro de Nürnberg, encontrando o Pedro que havia ido de trem até lá; e voltamos para Erlangen através de um caminho "alternativo" ao longo de canais e campos com muito pouco movimento, um pedal excelente. À tarde, encontrei o Pedro no centro de Nürnberg e visitamos o Germanisches Museum, numa visita de quase 3 horas. Algumas sessões estavam fechadas, mas vimos desde antiguidade e pré-história até obras-primas de mestres renascentistas. "Vale a foto!" (fotos, aliás, eram proibidas em diversas áreas). Depois olhamos vitrines no centro e terminamos com um café num dos diversos Starbucks da cidade, antes de pegarmos o trem de volta para casa. Junto com o Benja, comemos uma pizza para celebrar a última noite do Pedro aqui conosco.

Ontem (quarta) de manhã, caminhamos até o centro e despedimo-nos do Pedro na estação, onde ele pegava um trem para ir para Frankfurt, última etapa da viagem dele pela Alemanha. O Benjamin ia trabalhar e eu fui encontrar um colega da equipe para uma pedalada de quase 4 horas (~110km), com direito a um chocolate quente no alto da escalada de Cadolzburg, distante cerca de 30km de Nürnberg. Cheguei em casa quase no meio da tarde, e depois de almoçar, fazer a ciesta, fazer compras no supermercado com o Benja, já era noite quando fui assistir um filme e me deitar para ler um livro..

Hoje de manhã preparava-me para o que deveria ser um pedal curto aqui por perto, quando recebi um convite para ir almoçar com a Mônica em Bamberg. Fui pedalando até lá (~40km aqui de Erlangen, escolhi um trajeto mais longo, talvez 60km?) e encontrei-a, com o Benjamin (que foi de trem e levou uma muda de roupas secas para mim), pouco depois do meio-dia. À tarde, ela organizava o escritório dela (era o último dia de trabalho dela na universidade), e eu aproveitei para fazer uma visita e levar um chá para minha amiga Nikola, que estava gripada. Depois encontramos a Uca e o Benja e fomos juntos tomar um chocolate quente às margens do rio Regnitz, que corta a cidade. Por fim, ajudamos a Monica a empacotar todos seus pertences e carregá-los no carro. Eu e o Benja ganhamos uma carona de volta pra Erlangen, onde jantamos, com colegas da república, alguns pãeszinhos feitos no forno :)

Ora pois. Duas semanas é muito pouco tempo. Tenho a impressão de que mal cheguei, e já me dou conta que, em três ou quatro dias, estarei voltando para casa. Tenho amigos aqui, uma certa identificação com a região, um desejo de criar mais raízes. Naturalmente gosto muito de toda a turma em Porto Alegre, mas, como já comentei algumas vezes, há esse estranho sentimento de... querer, precisar vir morar por aqui. Com isso, chegando a hora de pensar já em fazer as malas, vem junto um curioso sentimento antecipado de saudades...

25.2.08

whiskas@de3 #3

Passei a sexta-feira em função da bicicleta. Faltavam algumas ferramentas, então apelei para a loja na esquina para fazer a instalação de algumas peças que exigem um ferramental mais especializado. Praticamente terminei a construção naquela noite, faltam só pequenos ajustes, encaixar as rodas e sair para rodar. À noite, chegou o Pedro, vindo de Munique. Havia convidado-os para comer em Nürnberg, mas ele havia viajado o dia inteiro, o Benja não se mostrou deveras motivado, e eu de fato ainda tinha bastante para trabalhar na bike, ergo, ficamos por lá, pedimos uma pizza e assistimos um filme - além, é claro, daquelas conversas únicas que, em parte, são catalisadas quando amigos se encontram em lugares tão distantes.

O Benja acordou sábado com uma missão: nos levar a tomar uma certa cerveja numa certa cervejaria numa pequena cidade ao sudeste de Nürnberg. Saimos correndo logo após o café, eu já com a mochila para mais tarde pegar o trem para a Renânia, onde visitaria meus tios. Acabamos perdendo o trem por um mero minuto, para daí mudarmos os planos (depois de uma brevíssima volta pelo centro de Erlangen), com a nova programação consistindo de uma caminhada pelo centro de Nürnberg até a hora do meu trem partir. Pegamos o trem seguinte, e fizemos a viagem batendo fotos e conversando às pencas.

Em Nürnberg, fizemos uma caminhada de turistas: fotos nos lugares típicos, visita às igrejas e ao Mercado, enfim. Almoçamos tarde, num restaurante "tradicional", com cervejas e pratos regionais, numa casinha muito aconchegante, e quando saímos de lá, era quase hora d'eu me dirigir à estação de trens, o que fiz depois de caminhar lomba acima até a Burg, o "castelo" com uma vista privilegiada da cidade. De lá para o "centro", ainda tive tempo de pegar um chocolate quente e chegar na plataforma no exato momento que meu trem entrava na estação. Ótimo. Lugar na janela, comecei a assistir um filme, mas o estômago cheio propôs que eu trocasse o programa por um pouco de música e uma ciesta...

Depois de uma baldeação, fui recebido na estação de Recklinghausen pelo meu primo Mike e sua namorada Yvonne. Fomos direto à um bar/café "(algo) del Sol", comemos uma pizza e massa, e trocamos as atualizações do que acontece de cada lado do Atlântico. Me trouxeram até a casa dos meus tios (que estavam numa festa), e aqui tomamos umas cervejas antes de me deixarem para eu capotar...

Hoje de manhã, café da manhã tardio com meus tios, li o jornal, um pouco do meu livro, conversa vai, almoço e ciesta, conversa vem, mostrei algumas seleções de fotos que trago aqui no computador, enfim. No meio da tarde, chegaram o Mike e a Yvonne, e depois meu outro primo, Jörg e sua esposa Kathrin. Curioso: eu vejo meus primos alemães mais seguido que alguns dos primos que moram no Brasil, alguns inclusive à distâncias que eu poderia ir à pé de casa. Não que eu não goste dos primos brasileiros, mas gosto muito de conversar com os guris aqui. De alguma forma encontrar meus outros semelhantes genéticos por aqui traz à tona pensamentos bem interessantes sobre o sentido que dou à palavra "família". Por outro lado, isso se aplica também aos amigos, como já dei a entender alguns parágrafos acima. Destas duas coisas, uma conclusão é imediata: viajar é simplesmente essencial. Outras conclusões merecem um relato em separado...

Jantamos em um exótico restaurante de comida mongol. Devo mencionar que parei de comer carne vermelha há quase dois anos, e só _muito_ raramente tenho comido frangos ou outras aves (dos peixes eu ainda não abri mão). Comecei a conversar sobre todas aquelas exoticidades com meu tio, e ele contou várias histórias sobre jantares ou almoços de negócios nos mais diversos lugares do mundo, como por exemplo uma vez em que um certo príncipe saudita ofereceu um banquete com... alguns seres rastejantes e leite de camelo... "era preciso ter um estômago de concreto armado", disse ele. Bom, eu já havia comido um prato de salmão e frutos-do-mar, mas depois de todas estas histórias, me senti compelido a aceitar a oferta dele e provar um pedaço da carne de canguru, crocodilo, oryx e um outro animal que eu nem lembro o nome. Divagações sobre o vegetarianismo, os quais matutei no caminho de volta para casa, também merecem um relato em separado.

Enfim. De volta em casa, ainda discutimos um pouco de política em cima dos resultados das eleições de Hamburgo que passavam na TV, briguei mais um pouco com a configuração da rede wireless no meu micro, e me deitei para escrever parte deste relato antes de capotar, já quase 1h da manhã. Hoje de manhã, dormi até a janela me acordar, ao qual preciso acrescentar: despertador para quê? Um timer na persiana é tào mais prático... Após o café, tive uma conversa muito interessante sobre o "estado das coisas" na Alemanha, na visão dos meus tios. Tenho adorado discutir política (ou, em uma forma mais ampla, a gerência de pessoas), e este, assim como os outros temas que já citei acima, merecerá um relato especial em separado quando eu tiver mais tempo para divagar e colocar as idéias "no papel". Agora ler um pouco, mais tarde sairemos para uma caminhada, almoço, preguiça... até o fim da tarde, quando vou junto com meu tio para o aeroporto de Düsseldorf: meu vôo para Nürnberg parte cerca de meia-hora antes do vôo dele, para Berlim, de modo que vou ganhar uma carona :). Bis dann!

21.2.08

whiskas@de3 #2

Ontem foi um dia legal. Acordei depois das 10h, tendo ausgeschlafen (a expressão alemã para "dormir até acordar"). Café rápido, fui riscar algumas tarefas pela cidade: comprar adaptador de tomadas, verificar o que havia de novo pela cidade, algumas compras - a rede Zweirad-Stadler, que já era enorme, agora tem uma loja com o DOBRO do tamanho (12 mil metros quadrados sobre duas rodas) - preciso dizer mais? Feitas estas errandas, já era hora de encontrar o Kalle, ex-colega da Siemens, em um bar que ele está abrindo em Nürnberg. Fui junto com a Mônica, que também foi colega do Kalle no período que ela trabalhou lá (eu entrei na vaga da Moni quando ela saiu do SGP). Um bom jazz e bebidas quentes bem em conta - um chocolate quente, um latte machiatto e um chá verde totalizaram minha conta em 3 euros. Capotei pouco depois da meia-noite.

Hoje foi um dia ótimo. Acompanhei a Monica até Bamberg para conhecer a cidade onde ela está terminando o doutorado. Lá fui acompanhado pela muito simpática bolsista dela, a Nikola, em um tour pela cidade. Juntos caminhamos a manhã inteira por diversas igrejas, castelos, parques, enfim, meia cidade. Encontramos a Mônica para o almoço, e saímos para fazer a outra metade da cidade. Chocolate quente, alguns postais para mandar pra casa, e quase perdemos a hora de voltar para a estação central para eu pegar o trem para Erlangen, onde vim me instalar aqui com o Benjamin. Ora pois, chegando aqui me deparei com o quarto do Benja com pacotes mil das mais diversas encomendas... e um em especial - meu quadro Cervélo P2C, lindo, leve, no meu tamanho... meu! Começo a montá-lo amanhã. Saímos para comer um Subway (sanduba) e com meu princípio de resfriado se instalando, deixamos a cerveja para amanhã, quando chegará aqui também o Pedro, que vem de Munique. Agora, pra cama!

19.2.08

whiskas@de3 #1

Diretamente da Habsburgerstr. 2, em Nürnberg, e ainda por cima a partir de um teclado alemao (sem alguns acentos, nao reparem!)... cheguei.

Recapitulando. Saí da casa dos meus tios logo depois da feijoada do almoco, primeiro de táxi até Congonhas, depois com ônibus da TAM até Cumbica. Devo ter sido o primeiro passageiro no check-in internacional; como havia lugar no vôo, nem precisei entrar na lista de espera, despachando as bagagens na hora. Tive entao o resto da tarde para uma tentativa frustrada de assistir um filme no notebook numa poltrona do aeroporto, depois ler alguns capítulos da biografia do Einstein, e encontrar o Vitório para tomarmos um chope até chegar a minha hora de embarcar. Apesar do inconveniente de nao ter pego o vôo ainda domingo, devo considerar "positivo" este infortúnio - estes encontros em lugares ou situacoes inesperados sao únicos.

Ora pois. Na felicidade de ter conseguido um assento "de primeira", nem me lembrei do pedido usual que faco por assentos nos corredores mais largos, com mais distância para as pernas. Resultado: sentei na janela com um paraguaio (imaginei inicialmente ser argentino, dado o grau de inconveniência do sujeito), com uma familia com criancas de respectivamente 1 e 3 anos - em outras palavras, diversao garantida. O meu amigo latino ficava ouvindo e batucando suas músicas no seu celular-boombox, enquanto que as criancas se encarregavam do fundo musical apropriado. Ainda assim, dormi quase 5 horas ininterruptas, depois nao voltei a pegar no sono e comecei a ler.

Aterrisamos, procedimentos de imigracao, alfândega, me dirigi à estacao de trens e comprei uma passagem no próximo InterCity para Nürnberg, que saia em poucos minutos. Nao precisando arrastar uma mala-bike enorme, foi bastante fácil. Já na plataforma, telefonei com a Mônica para avisar da minha chegada, e dentro do trem, assisti a um lindo pôr-do-sol no caminho para a Baviera, com direito também a um pequeno lanche-almoco no vagao-restaurante. Encontrei-me com a Mônica poucos minutos depois de desembarcar na estacao central de Nürnberg, e juntos pegamos um S-Bahn ("trensurb", ha-ha) até a casa dela, no sul da cidade. Ajudando a identificar os nomes, a Mônica, com quem dividi um apartamento durante o ano que morei aqui, é irma do Benjamin, colega da física e ciclismo para onde vou no final da semana.

Tomei um banho, comemos uma massa com legumes, corrigimos alguns erros de LaTeX da tese de doutorado dela, colocamos mais um pouco da conversa em dia... Ah, e descobri que esqueci o adaptador de tomada para o meu notebook, naturalmente sendo os plugues daqui incompatíveis com meu micro. Viva a padronizacao... amanha vou numa loja de eletrônicos resolver isto. Por enquanto, utilizo o computador dela pra colocar as notícias em dia.

Ora pois, o relógio já marca 23h - um bom momento para pensar em sincronizar-me com o fuso-horário! Até breve,

18.2.08

whiskas@de3 #0

Saudações a todos!

Como alguns de vocês já devem reconhecer pelo título deste post, se trata de uma nova série de circulares de mais uma viagem a Alemanha. Este relato começou a ser escrito ainda no salão de embarque em Porto Alegre, onde já havia conseguido um lugar no vôo até Guarulhos. Viajo com uma passagem de tripulante sem direito a reserva, ou seja, fui até o aeroporto e perguntei "Tem lugar no vôo?", com resposta afirmativa para este primeiro trecho da viagem.

A história desta se inicia, na verdade, há algum tempo atrás. O motivo principal? Uma bicicleta de contra-relógio que comecei a montar, escolhendo e comprando peças via Internet, e despachando-as para o endereço do Benjamin, em Erlangen, na Alemanha. Junto com as compras, naturalmente, novas visitas à amigos e ex-colegas, alguns treinos com a equipe do Radsport-club Herpersdorf, um eventual contato com meu antigo departamento na Siemens e, pendente ainda uma resposta, talvez uma visita à uma universidade para sondagem de possibilidades futuras.

Ontem (ed.: hoje já ante-ontem, sábado, em todo caso) passei o dia principalmente em função da arrumação da mala, que já é motivo de uma nota especial: pela primeira vez, não estou viajando com uma enorme mala azul (minha tradicional mala-bike). Consegui colocar todos os itens necessários em uma mala "tradicional", e na Alemanha devo aceitar a oferta do Benjamin e trazer a mala-bike dele de volta ao Brasil, com a bicicleta nova dentro.

Hoje (ed.: ontem) ainda corri a 4a etapa da Copa União/Gatorade de Ciclismo, realizada em um circuito na Av. Beira-Rio, aqui em Porto Alegre. A apresentação da equipe foi boa, porém os resultados novamente deixaram a desejar, com um 6o lugar do Lucas sendo nossa melhor colocação. Enfim, you can´t win everything.

Depois da corrida, que terminou depois das 14h, uma rápida passagem para comer um X-Camarão no 14-Bis, banho em casa, e daí de carona com o Rocca para o aeroporto, onde de cara consegui um lugar no vôo para Guarulhos, mas sem confirmação do lugar no trecho seguinte (até Frankfurt). Tomamos um sorvete para esperar a hora do embarque, que porém atrasou mais de uma hora devido ao mau tempo sobre São Paulo.

Com isso, fomos aterrisar as 21h50 (horário previsto inicialmente: 20h55), e ainda por cima fomos direcionados à uma posição remota, o que resulto em mais um atraso até pegarmos o ônibus para o terminal. Em resumo, fui finalmente conseguir minhas bagagens as 22h30 (o avião para Frankfurt partia as 22h25). Ainda tentei no balcão, mas a funcionária foi categórica: o vôo já estava fechado. Fiz então um contato com meus tios que moram aqui em Sampa, tirando minha tia Nair da cama para perguntar se poderia ficar na casa deles até o vôo do dia seguinte. Às 23h30 peguei o ônibus da TAM para o aeroporto de Congonhas, que fica bastante próximo ao apartamento deles, e pouco depois da meia-noite fui recebido na sala pelo meu tio Woi. Fiz um lanche assitindo com ele o All-Star Game da NBA, e após capotei no sofá que minha tia havia reservado para mim.

Hoje pela manhã, depois de um banho e um reforçado café-da-manhã, aproveitei para ver algumas fotos do braço paulista dos Wickerts, bem como mostrar à minha tia algumas recordações da turma do Sul. Conversamos bastante sobre assuntos da família, morar e estudar no exterior, política, enfim. Uma boa oportunidade de colocarmos a conversa em dia. Fico aqui até o almoço (o cheiro de feijão vindo da cozinha já começa a permear a casa), e daí vou à Congonhas pegar o ônibus de volta até Guarulhos. Minha idéia é já estar lá quando o guichê do check-in internacional abrir, para maximizar as chances de conseguir um lugar. Com um pouco de sincronismo, talvez ainda encontre o Vitório por lá, pois ele tem de ir a Guarulhos pegar a conexão dele à S. José dos Campos (é isso?). Se der certo, tomamos um chopp no aeroporto...

Ora pois, findo por aqui, ainda quero ler um pouco e olhar rapidamente a cidade antes de sentar para o almoço e reiniciar a rotina de viajante. I behold travellin´ light!

15.2.08

Atualização #34

Começava este texto buscando justificar a "necessidade" de postar atualizações. Uma das razões por trás da criação deste sítio era justamente de manter atualizadas pessoas que, tradicionalmente, só recebiam emails circulares das minhas viagens - num fenômeno que a Monica muito bem descreveu no blog dela, criado talvez em parte pelo mesmo motivo. Nem sempre são acontecimentos importantes ou divagações profundas - às vezes resta apenas a possível poesia do cotidiano.

Escrevendo isso, e pensando justamente nas pequenas rotinas, surge isto como um motivo para divagar um pouco (e talvez aumentar o suposto "valor literário" deste post). Durante algumas daquelas pedaladas na chuva, contra o vento, me peguei procurando "onde está a glória numa atividade tão... unglorified?". A resposta? Me enchi de alegria quando conclui que havia encontrado-a, pedalando abaixo de muita água na semana passada: eu estava ali simplesmente pois aquilo era a coisa que eu mais queria estar fazendo naquele momento. Independente de onde estivesse a glória ou a honra ou qualquer outro sentimento enobrecedor do ato de pedalar.

Assim segue a rotina destas últimas semanas: com grande ênfase nos treinos - termino esta semana o segundo ciclo de treinos de base - e relativa folga acadêmica, devido às férias da minha orientadora e ao clima de indecisão sobre os rumos que o meu projeto irá tomar. Ainda assim, somente relativa: na semana anterior ao Carnaval, preparei um extended abstract para a QChaos 08, uma conferência sobre caos quântico na Espanha. Infelizmente, não vou ter chance de estar lá in locus, de forma que a apresentação ficou a cargo da Sandra, que irá mostrar este e os demais trabalhos do nosso grupo.

Então: Escrevi e submeti o abstract, e preparei figuras para a apresentação que a Sandra irá fazer. Chegaram novos uniformes para a equipe - ficaram ótimos, realmente com cara de equipe profissional, kit completo. Pretendia começar a escrever um capítulo de revisão teórica para minha dissertação, mas optei por, antes, estudar bem os fundamentos de caos e dinâmica não-linear. A minha "formação" na área, baseada principalmente na leitura de artigos recentes, deixou abertas algumas lacunas na base, portanto, a opção por um estudo sistemático do assunto. Em paralelo a este estudo, estou lendo uma biografia de Albert Einstein, sobre a qual irei me manifestar quando tiver terminado. Também estive ocupado "indo às compras" para arrematar praticamente todas as peças que ainda faltavam para a minha bicicleta de contra-relógio. Para finalizar, no domingo (logo após a etapa da Copa União ali na Av. Beira-Rio) embarco para a Alemanha, para duas semanas de férias "oficiais". Lá, espero, além de encontrar a nova bicicleta, re-encontrar alguns amigos do ciclismo e do trabalho, curtir um pouco do inverno, visitar os parentes, e algumas outras coisas mais. Aguardem, portanto, atualizações mais frequentes como parte da série 'whiskas@de'. Até lá!

7.2.08

Sobre a poça d'água

Há pouco mais de dois anos e meio, eu não fui pra Alemanha. Eu tinha a possibilidade de transferir a faculdade para lá, a exemplo do que fez o Benjamin, e cheguei muito próximo de fazê-lo: havia enviado a documentação, tinha a passagem em mãos, fizeram inclusive um churrasco de despedida. Dois dias antes do embarque previsto, porém, eu cancelei a viagem. Não era o momento, simplesmente.

Investiguei a possibilidade de ir para a Europa quando da minha formatura, mas as condições não eram exatamente as que eu buscava, e a investida foi preemptada. Mas, de lá para cá, como se já dando pela inevitabilidade de que, mais cedo ou mais tarde esta hora iria chegar, passei a encarar meu tempo aqui da mesma forma que eu o via quando estava do lado de lá da poça d'água. Passei a frequentar mais as festas com amigos, passei a curtir novas pedaladas, mesmo por caminhos já conhecidos Aproveitar mais o tempo com meus pais e com a minha irmã. Rir das pequenas coisas, que muitas vezes considero idiotas ou frustrantes, mas que são únicas no cotidiano aqui no Brasil.

Tive um ótimo retorno com esta postura - novas experiências, amizades, perspectivas - que, aliada ao bom desempenho que tive no mestrado, e aos ótimos resultados no ciclismo, explica bastante do meu atual estado de espírito. Por outro lado, um ponto diferente me foi levantado pela segunda vez em menos de uma semana, ao me perguntarem "e os que ficam?" - questionando se é razoável se aproximar tanto, para depois deixar todos para trás. Em ambos os casos, listei como morar longe hoje não implica de forma alguma em perder contato - vôos mais baratos, Skype, ferramentas de IM, etc - mas isto todo mundo já sabe. O que eu não disse, mas considero tão mais válido como argumento, deixo registrado aqui: tendo a possibilidade desta aproximação, desta intensidade, seria justo para com todos não vivê-lo?