18.4.09

Tudo que você pode deixar para trás.

Como em 2004, viajei no dia mais quente do ano - os termômetros marcavam 17°C e eu pedalei só de camiseta, voltando do Instituto para casa para pegar minha mala. Ganhei uma carona do Raffaele até a estação, onde peguei um trem para Nürnberg, e de lá, outro para o aeroporto em Frankfurt, onde foi direto conseguir um lugar no vôo - pela [n]-ésima vez: valeu, Roni! Desembarquei em Porto Alegre no meio da manhã de sexta-feira, depois de 5 meses, 13 dias e 21 horas. Depois de um delicioso almoço de comida materna, iniciei uma sequência que se estendeu pelo fim-de-semana, de visitas a avós, colegas e amigos, cafés, sucos e chimarrões, além de ainda encaixar algumas pedaladas. Não pedi ninguém em casamento, é verdade, mas fiz praticamente todas as atividades à que havia me proposto (...) .

Na segunda-feira, partimos - com Lucas Barcelos e os irmãos Gean e Gilnei Oliveira - para o Uruguai, com o Pedro de fotógrafo/motorista, e a Lu viajando de ônibus para nos encontrar em Quaraí. Uma noite mal-dormida em um quartel do Exército brasileiro foi suficiente para nos transferirmos, todos, para um hotel de diárias 'honestas'. Meu prólogo foi 5s mais lento que 2008, o que me trouxe apenas um 12o lugar. Não tinha esperanças de conseguir novamente a liderança, sendo minha primeira corrida do ano, mas não pude evitar de ficar um pouco desapontado. No dia seguinte, a primeira prova de estrada, o azar atacou já antes da largada oficial, com um pneu furado na minha roda traseira - o primeiro de quatro furos que nossa equipe sofreu num intervalo de pouco mais de 30km. Sofremos contratempos semelhantes nas outras etapas; o que só serve para dar mais mérito ao excelente 29o lugar que Lucas alcançou na classificação geral final. Eu ainda consegui um 11o lugar no contra-relógio de sábado - depois de largar sem aquecimento e com alguns problemas mecânicos de última hora - mas isto não melhorou significativamente minha colocação; terminei na 55a posição. Todavia, o meu objetivo era tão-somente treinar na intensidade de uma corrida, e isso foi atingido de forma espetacular: pela primeira vez, completei uma 500 Millas sem nenhum tombo!

Infelizmente, tal sorte não teve minha Cervelo, colocada de forma precária no rack modificado de última hora. Pedro até alertou para o potencial de um acidente, mas com o cansaço da última etapa, preferi não ordenar uma reorganização completa do rack antes de zarparmos. Cento-e-vinte na estrada, com um vento lateral fazendo pressão sobre a roda fechada na traseira, um elástico arrebentou e alguns milhares de euros em carbono de primeira linha se estatelaram no asfalto. O primeiro diagnóstico numa autorizada da marca aqui foi sombrio: "talvez tu pedales por alguns anos e nada aconteça, mas talvez tu estejas pedalando, ela quebre e tu deixes um piá de 5 anos tetraplégico". E o Campeonato Estadual de Contra-Relógio é daqui a duas semanas...
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Além do U2 (cuja música "Walk On" traz na letra o título desse post), uma antiga música de igreja, lá dos distantes tempos em que eu frequentava estas coisas, já dizia: "não temas, segue adiante, e não olhes para trás". Tinha muitas saudades dos meus pais, dos meus amigos. De alguns lugares e momentos, de algumas coisas que eu sei que só encontrarei no Brasil. E por outro lado, nos últimos dias por lá, já tinha uma certa ânsia por voltar pra Erlangen, aqui, onde estão outros amigos, onde está meu trabalho, onde, pelo menos por hora, é minha casa. Alguns episódios ajudaram a fortalecer o sentimento de que alguns processos foram realmente encerrados, e agora preciso investir em novas iniciativas. Não significa esquecer os amigos - a campanha de exportação em massa continua - mas sim entender que não é o momento de viver de saudosismos. ¡Adelante!

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