26.6.10

Asleep on a Sunbeam, em português

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(Para a letra da música que intitula este relato, veja o original.)
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Enquanto os alemães celebram sua vitória por um a zero no Tal Negócio de Futebol, uma infinidade de buzinas tocam, uma gritaria generalizada. Mas eu, longe de estar assistindo a partida junto à hordas de tedescos bêbados, estava acompanhando pela rede um evento muito mais interessante: a partida na quadra 18 de Wimbledon entre John Isner e Nicolas Mahut, que, ainda naquele segundo dia, já fazia história como a disputa mais longa da história do tênis, com mais de nove horas de duração.

Naquela mesma tarde, havia treinado com meu colega francês Cédric. Ao longo do nosso trajeto pelos arredores de Erlangen, discutimos como os motoristas estavam particularmente impacientes com nosso pedalar lado-a-lado (a lei aqui ordena que ciclistas andem em fila, mas isto é tipicamente tolerado se não for feito em avenidas ou estradas muito movimentadas). Concluimos que todos estavam tão nervosos pois queriam chegar logo em casa para assistir ao jogo. Futebol - ou talvez o fanatismo a ele associado - arrastam qualquer cultura e civilização a um estado terceiro-mundista desolável. E ainda por cima, todas estas manifestações nacionalistas que, em qualquer outra ocasião, serviriam de pretexto para uma nova Grande Guerra. Aff.

Se estou a torcer pela Alemanha, é somente pois a loja onde comprei meu novo notebook oferece um prêmio/desconto significativo se a seleção nacional retornar vitoriosa - e eu posso, de fato, usar uns euros a mais no meu orçamento. Ainda assim: apesar do meu ódio pelo futebol, sou capaz de dissimular interesse, nesses tempos de copa do mundo, principalmente pela manutenção de interações sociais menos polêmicas. Fora isso, estou cagando e andando.
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Neste último fim-de-semana, conquistei minha primeira vitória em solo europeu. Cronometrei 25m02s no campeonato aberto de contra-relógio de Straubling, pequena cidade às margens do Danúbio, no leste do estado. Pedalei a uma média de 47.2km/h, que foi suficiente para ganhar na Elite - o segundo lugar, Alex Biewald, levou quase um minuto a mais no mesmo trajeto, com 25m58s - mas ainda assim, foi uma vitória com um gostinho amargo, dado que dois atletas da categoria Master fizeram tempos melhores - mesmo que só um punhado de segundos: Jürgen Fuchs, que aparece no ranking como um dos 5 melhores do estado, fez 24m55s, enquanto Karl Aichner (10° lugar no Estadual, quase dois minutos à minha frente naquela ocasião), marcou o melhor tempo do dia: 24m54s.

Mas a corrida mais importante ainda estava por vir. O campeonato regional de contra-relógio da Francônia realizava-se nessa terça-feira. Esperava melhorar meu 3° lugar do ano passado, mas as coisas tomaram outro caminho. A agradável tarde de verão, com temperaturas amenas e tempo seco - ano passado a prova se desenrolou embaixo de chuva - influenciou não só meu tempo, mas também a participação no evento, com quase 180 ciclistas completando o percurso de 15.3km em forma de T, ao sul de Nürnberg. Além das minhas habilidades deficitárias nas duas curvas de 180° do trajeto - derrapei na primeira, e abri demais na segunda, quase entrando calçada adentro - faltou um ritmo mais forte, especialmente no trecho de subida dos últimos quilômetros. Consegui alcançar três ciclistas que largaram na minha frente, e ainda baixei em 18s meu tempo do ano passado (de 21m14s para 20m56s), mas com isso só consegui o 4° lugar, ficando de fora do pódium por 9s. Michael Schultz da equipe de Aichach, que abriu fuga comigo na clássica de Schrobenhausen no início da temporada, levou as honras, com Markus Beck e meu colega de equipe, Christoph Schwedt, completando o top 3.

Nada menos que 76 corredores tiveram médias iguais ou superiores a 40km/h, o que, dado o percurso acidentado em que a prova foi disputada, mostra o calibre do pelotão em uma prova regional típica. Olhando por este lado, minhas performances ao longo das últimas semanas - lançando ataques nas últimas voltas, e seguidas vezes abrindo fugas - não são inteiramente insignificantes. Mas ainda assim, sinto que os resultados não tem correspondido da mesma forma. Ainda preciso melhorar meu posicionamento e minha confiança para andar no meio do pelotão, para só então os resultados ficarem de acordo com aquilo a que as pernas são capazes...
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Passei algum tempo nos últimos dias folheando o Lonely Planet em preparação para minha viagem para a Austrália, daqui a três semanas. Depois da conferência, fico ainda mais uma semana por lá, em companhia de Benoit, colega francês do Instituto. De mochila nas costas, queremos explorar o que for possível neste tempo, que já parece ser demasiado curto. É de qualquer forma muito pouco tempo para atravessar o continente pedalando, e com os custos e incomodações associados ao transporte da bicicleta, não justificaria levá-la somente para uma prova de circuito por lá. Pelo jeito, a bicicleta só vai conhecer a Oceania mais tarde...

Ainda no assunto de viagens inter/transcontinentais, meu projeto de pesquisa para um semestre em Waterloo, Canadá foi aceito no início desta semana. Igualmente, não pretendo levar a(s) bicicleta(s) para lá quando agosto chegar: poucas corridas, e o outono/inverno se aproximando fizeram-me desistir da idéia. Ao invés de pedalar, vou procurar uma academia para malhar durante o inverno - e complementar com outras atividades - um tour de caiaque e algumas longas caminhadas estão nos planos, se o clima permitir.

Para ambas viagens, ainda preciso de uma mochila nova, talvez lentes novas para minha câmera, e alguns outros acessórios. Tantos brinquedos, e só uma bolsa...
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Duas semanas trás, acreditava ter encontrado um argumento muito convincente extendendo uma prova de impossibilidade para uma classe muito maior de estados. Tudo que faltava eram meras formalidades matemáticas, fisicamente tudo parecia fazer perfeito sentido. Esta semana, todos os cálculos parecem sugerir que encontrei uma exceção, e assim esta impossibilidade - na qual todos acreditavam, era dada como fato por todos nas últimas reuniões do grupo - não é verdadeira. Ainda estou no processo de revisão formal para garantir que nada passou desapercebido, mas se o algoritmo que propûs de fato funcionar como imaginado, será uma virada de mesa bem interessante para toda a área de códigos de correção de erro gaussianos...

Com resultados ou não, todavia, ainda tenho a impressão que meu formalismo é raso: tenho novas idéias constantemente, mas não consigo expressá-las propriamente com afirmações matemáticas propriamente definidas - ou ao menos, não com a desenvoltura que eu gostaria. Um paralelo com a situação no ciclismo não é difícil de ser traçado.
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Morando no meu próprio canto, eu às vezes me divirto com a vida de solteiro, com roupas de ciclismo por todos os lados, louça de alguns dias empilhada na cozinha, e isotônicos e cervejas a torto e direito. Mas também me orgulho muito de quão aconchegante e arrumado consigo manter o apartamento quando assim o desejo (ou preciso...). Como é de se esperar, estes dois estados se alternam, em ciclos que ultimamente tem sido de alguns dias para cada um. Igualmente alterno períodos nos quais passo bastante tempo em casa lendo, escrevendo, navegando ou cozinhando - e outros nos quais "casa" é só um lugar para dormir ou trocar de roupas, numa rotina que me leva do treino para o Instituto e de lá para algum bar e fins-de-semana nos quais mal paro em casa, graças a agenda pontuada de corridas...
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A vida que eu tanto esperava, e há tanto planejava. Talvez eu até devesse aproveitá-la um pouco mais... mas a Solidão do Corredor de Meio Fundo é assunto para um outro post.

1 comment:

Whiskas said...

> Ainda estou no processo de revisão formal para garantir que nada passou desapercebido, mas se o algoritmo que propûs de fato funcionar

De fato, o código não funciona. Acontece que dois termos se cancelam exatamente, e assim quebram a hierarquia de probabilidades da qual eu dependia.

Minha professora de Mecânica Quântica adorava dizer "não perca tempo conjecturando - calcule!". Deveria ter ouvido a Acirete e feito as contas antes de ter elaborado sobre o possível resultado... como diria o Cláudio Schneider, "Maxima culpa mea".