27.3.09

Dear Catastrophe Whiskas

O álbum "Dear Catastrophe Waitress", de Belle & Sebastian, faz a trilha sonora. Sozinho na sala, tomando um chimarrão enquanto comemoro um pequeno progresso no cálculo de uma função na qual passei a semana travado. Dia cinzento lá fora, ora uma leve garoa, ora um tímido raio de sol. No fim-de-semana, começa o horário de verão: uma mera formalidade, dado que todos continuam a usar suas jaquetas de inverno...

Recebi uma série de pacotes nos últimos dias - um claro indício de que uma viagem se aproxima... De fato, já estou de posse de praticamente todas as encomendas. E do meu novo par de rodas Hed Jet 6 C2. Lindas, leves, rápidas, ou - se aplicável para rodas - então: sexys. Serão estreadas nas 500 Millas, no Uruguai. Não participarei da abertura da temporada aqui, pois quando minha licença finalmente foi expedida junto à Federação, já haviam encerrado as inscrições - devido ao limite de 200 participantes por categoria ter sido excedido.
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Uma visita à terra natal motiva uma série de pensamentos. No caso de uma brevíssima visita - devo ficar não mais que cinco dias em Porto Alegre - mais ainda: é necessário compensar na intensidade o que não se obterá pela duração. Fico muito feliz na expectativa de reencontrar amigos e família, mas isso não deixa de acrescentar alguma entropia ao estado atual.

Apropriadamente, o álbum vai terminando:

I keep running round in circles
I keep looking for a doorway
I’m going to need two lives
To follow the paths I’ve been taking
E tem horas nas quais parece que só me resta bater com um gato morto na cabeça até o bichano miar.

22.3.09

À Portuguesa

Foi uma semana fantástica de treinos em Portugal. De sábado a sábado, dias ensolarados com temperaturas durante o dia chegando a 23°C. Pedalando primariamente pelas encostas do Vale do rio Douro, fechei a conta em 593km de domingo a sábado, com direito a diversas subidas e bons trechos contra o vento. Foi muito legal reencontrar a Julia, que era companheira de muitos treinos no Gazômetro lá pelos idos de 2003, bem como o Franz e a Nadia Bischoff, ele colega de algumas pedaladas e outras indiadas, ela ex-colega da UFRGS, hoje casados e também morando no Porto.

Portugal é um destino especialmente interessante para brasileiros, ainda mais para um 'brasileiro' do Sul em busca de uma melhor definição sobre quem é no mundo. De certa forma, é um retrato do que poderia ser o Brasil, caso não houvessem as influências dos diversos outros povos que migraram para o Brasil e forneceram os ingredientes da tão famosa miscigenação. Exemplo gritante é a língua, com o particular 'sotaque' que tanto imitamos e as diversas palavras diferentes, mas também a arquitetura, a culinária... o desrespeito no trânsito (comparação esta com a Alemanha e o resto da Europa; naturalmente os 'tugas ainda estão muito à frente dos motoristas tupiniquins). Vale notar que, mesmo em euros, o país é muito barato; me aproveitei disto tanto nas comilanças na rua (café espresso+doce numa confeitaria na orla do rio por 1,20, menos se comesse no centro), como nos vinhos do Porto que trouxe junto na bagagem :)
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Ontem, depois de um giro leve pela cidade para 'soltar as pernas', e uma última visita ao supermercado, fiz a divertida viagem multimodal, incluindo metrô, avião, ônibus, táxi (e diversas caminhadas arrastando a mala entre um veículo e outro). Em casa pouco depois da meia-noite, montei a bicicleta, comi um prato de massa e capotei.

Seis horas depois o despertador me acorda - um café rápido, outro prato de massa, e sigo para Nürnberg, para participar, junto com outros 20 atletas do nosso clube, da "Maratona da Primavera" que eles chamam de 'O Treino' - o último treinamento em conjunto antes da abertura oficial da temporada, que ocorre no próximo domingo. Carro de apoio da equipe, e 180km nos campos do Sul da Francônia, com algumas subidas e muito vento. Não preciso dizer que cheguei em casa completamente podre...

De momento, estou na rotina de desfazer o estado de batalha campal no quarto, e já antecipo ir dormir bem cedo, tão logo a arrumação termine e as necessidades calóricas especiais sejam satisfeitas...

13.3.09

Quase uma tradição

Há cinco anos atrás, eu escrevia de Nürnberg a oitava mensagens da famosa série de circulares 'whiskas@de':

"São 22:45 de sexta feira. Amanhã às 03:45 se reunimos para às 04:00 saírmos em direção a Cesenatico, na Itália, para uma semana de treinos às margens do Adriático. Há uma hora atrás me ligam dizendo que estamos com problemas no banco de dados da empresa que eu estava ajudando a implementar, e eventualmente ainda vem alguém me pegar em casa para tentarmos resolver. Caos, pra não perder o costume."

Em 2004, fui para o Brasil em março, para disputar a Volta de Porto Alegre. Na volta, uma semana fazendo um curso de estatística pela Siemens, e então uma viagem de uma semana para a Itália, para alguns treinos antes da temporada 'engrenar'. Em 2009, muda um pouco a ordem, mas não é difícil encontrar o paralelo. Depois de uma semana em uma conferência em Hamburgo, e uma semana de volta em casa, embarco amanhã para O Porto, em Portugal, para uma semana treinando na costa do Atlântico. De volta, terei dez dias para tentar encaminhar algumas contas no sistema que estou trabalhando, para então embarcar para o Brasil, me juntar aos colegas da equipe Elipse Software/LAST, e seguirmos para o Uruguai, onde disputaremos a 41a edição das '500 Millas del Norte', corrida na qual venci uma etapa no ano passado.
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Depois de um rigoroso inverno como tivemos este ano, a chegada da primavera, como acompanhamos nestas duas primeiras semanas de março, é um espetáculo a parte. Os dias são perceptivelmente mais longos; as temperaturas são mais amenas; o verde brota e os pássaros cantam - até aí, acontece mais ou menos todo ano. Mas somar a estes sinais climáticos o atual momento, com muitas viagens e projetos em pleno curso, resulta em uma combinação muito animadora.

A Primavera de Erlangen, quem sabe? =)

9.3.09

Hamburgo/Hannover

Na semana passada, realizou-se em Hamburgo a 73a. Conferência da Sociedade Alemã de Física. Eu havia submetido um abstract em meados de dezembro, tomando o cuidado de formulá-lo de forma bastante genérica para que englobasse os diversos caminhos que estava investigando - na época, tinha pouco mais de um mês no doutorado e não queria me comprometer, já tão cedo, com o assunto. A definição sobre o que apresentar só foi tomada no início de fevereiro, quando decidimos por um pequeno resultado que obti para um circuito de codificação de variáveis contínuas. No meu ver, não é um 'resultado', apenas uma observação de que é possível ampliar alguns limites definidos num artigo anterior. Todavia, rendeu material suficiente para falar durante 15 minutos...

Na terça-feira, partimos de Erlangen a bordo de uma BMW 118 alugada, que rendeu uma bela e divertida viagem pelas estradas em direção ao norte. O clima primaveril com certeza ajudou, com termômetros que marcavam agradáveis 8°C quando chegamos em Hamburgo, no meio da tarde.

A conferência, com alguns milhares de participantes, oferecia diversas sessões simultâneas nos mais variados assuntos da Física Atômica, Molecular e Óptica Quântica. Na maior parte, a ênfase era experimental - um indicativo de quanto dinheiro os laboratórios por aqui dispõe - o que deixou o nosso grupo um pouco deslocado em algumas apresentações. Na manhã da quarta-feira, aproveitamos a ausência de sessões particularmente interessantes para passearmos pela orla fluvial da cidade, com direito a um deslocamento com um 'ônibus de linha' fluvial até o Fischmarkt de Altona - onde comemos alguns pescados em um típico restaurante portuário. Assistimos as sessões da quarta à tarde, e ainda saimos à noite para olhar um pouco da cena noturna numa rua que havia chamado nossa atenção durante o passeio da manhã. Terminamos em um pub irlandês que sediava uma 'noite de expatriados', cada um (um irlandês, um inglês, um americano, um colombiano, outro canadense, etc) cantando e tocando alguma música no pequeno palco improvisado. 3 pints de Killkenny, Newcastle Ale e Guinness me ajudaram a dormir sem maiores preocupações com a apresentação do dia seguinte...

Quinta-feira era o 'grande dia', e já pela hora do almoço - eu seria o último a apresentar na primeira sessão da tarde - eu mostrava alguns sinais de nervosismo: era, afinal de contas, minha primeira vez numa sessão oral de uma conferência. Para ajudar, descobri que nossa sessão se realizaria no auditório principal, com algo em torno de 200 pessoas assistindo - contra os 20 ou 30 que eu havia 'planejado' quando fiz meu ensaio com o Peter. Na platéia, diversos coordenadores de grupos e alguns diretores de Institutos Max-Planck. Oh life. Me posiciono na posição de espera, recebo o headset com microfone, batem palmas para a sessão anterior, e o voluntário da organização me empurra pro palco: "Teus slides já estão na tela. Vai!"

"Erm, hrm.. hello, good afternoon. My name is Ricardo Wickert and I'll discuss some Quantum Error Correction codes we've been working with at the Max-Planck-Institute for the Science of Light in Erlangen...". Balbuciei um pouco no início; custou para engrenar num ritmo e falar com mais naturalidade. Mas os minutos passaram muito rápido, e quando eu estava começando a ficar à vontade, meu último slide encheu a tela com um "Thank you!" e as referências. Ufa. Algumas perguntas de alguns experimentais: "mas, você tem medidas para comparar?", ou "existe alguma forma de diminuir o número de canais empregados?", etc. A Chair da sessão agradece novamente, desligam meu microfone, e eu deixo o palco de volta para encontrar o resto do grupo.

Pessoalmente, acho que falei muito travado e que faltou entrelaçar o assunto de forma a tornar nosso resultado algo realmente cativante; mas todos os colegas do grupo me parabenizaram, o Peter também mostrou-se satisfeito; e durante o coffee-break, algumas pessoas vieram conversar comigo e fazer algumas perguntas, propor experimentos, etc. Talvez no final nem tenha sido tão ruim assim...

Depois de encerrada a última sessão daquela tarde, peguei umas cervejas junto à sessão de pôsters (sim! aqui, ao invés de café e água, oferecem Beck's para motivar os professores e alunos a conversarem mais) e, junto com nossos ICs Jason e Dominik, fomos comemorar a minha 'bem sucedida' apresentação em alguns bares da cidade. Uma cerveja aqui, uns mojitos ali, mais umas cervejas num outro bar numa rua badalada da cidade; voltamos para o hotel lá pelas 3h da madrugada, combinando já de antemão que não iriamos assistir as primeiras sessões da manhã seguinte...

Assiti, sim, as apresentações do final da manhã e da tarde, que trouxeram bastante material útil e possíveis contatos para desenvolver, conforme os rumos que minha pesquisa tomar. Após o encerramento, enquanto os colegas do grupo seguiam de volta para Erlangen, eu dirigi até Hannover. Lá encontrei meu pai, que veio para a Alemanha para a CeBit, a gigantesca feira de informática/tecnologia/indústria/serviços/etc que acontece anualmente na cidade. Enfim. Depois de cinco meses longe de casa, foi uma grande alegria encontrar o pai, colocar algumas conversas em dia, e mais tarde ainda recolher a Mia no aeroporto, para então sentarmos no bar do hotel e aproveitarmos uma pequena reunião em família do outro lado do oceano.

Por fim, no sábado, após um reforçado café-da-manhã numa padaria, fomos passear na feira graças aos convites-cortesia que o pai nos conseguiu (obrigado, Datacom e APEX!). Duas horas foram muito pouco para ver qualquer coisa em maior detalhe, mas deu para ter uma idéia da dimensão da feira. Um sanduíche rápido de almoço, e me despedi, pois precisava pegar a estrada para devolver o carro antes do final da tarde. Encontrei uma linda tarde primaveril na estrada, o que fez a viagem um tanto mais agradável (rá, eu preciso de um carro...). E assim começa março. Divagações sobre o mês e a estação na sequência...