Na semana passada, realizou-se em Hamburgo a 73a. Conferência da Sociedade Alemã de Física. Eu havia submetido um abstract em meados de dezembro, tomando o cuidado de formulá-lo de forma bastante genérica para que englobasse os diversos caminhos que estava investigando - na época, tinha pouco mais de um mês no doutorado e não queria me comprometer, já tão cedo, com o assunto. A definição sobre o que apresentar só foi tomada no início de fevereiro, quando decidimos por um pequeno resultado que obti para um circuito de codificação de variáveis contínuas. No meu ver, não é um 'resultado', apenas uma observação de que é possível ampliar alguns limites definidos num artigo anterior. Todavia, rendeu material suficiente para falar durante 15 minutos...
Na terça-feira, partimos de Erlangen a bordo de uma BMW 118 alugada, que rendeu uma bela e divertida viagem pelas estradas em direção ao norte. O clima primaveril com certeza ajudou, com termômetros que marcavam agradáveis 8°C quando chegamos em Hamburgo, no meio da tarde.
A conferência, com alguns milhares de participantes, oferecia diversas sessões simultâneas nos mais variados assuntos da Física Atômica, Molecular e Óptica Quântica. Na maior parte, a ênfase era experimental - um indicativo de quanto dinheiro os laboratórios por aqui dispõe - o que deixou o nosso grupo um pouco deslocado em algumas apresentações. Na manhã da quarta-feira, aproveitamos a ausência de sessões particularmente interessantes para passearmos pela orla fluvial da cidade, com direito a um deslocamento com um 'ônibus de linha' fluvial até o Fischmarkt de Altona - onde comemos alguns pescados em um típico restaurante portuário. Assistimos as sessões da quarta à tarde, e ainda saimos à noite para olhar um pouco da cena noturna numa rua que havia chamado nossa atenção durante o passeio da manhã. Terminamos em um pub irlandês que sediava uma 'noite de expatriados', cada um (um irlandês, um inglês, um americano, um colombiano, outro canadense, etc) cantando e tocando alguma música no pequeno palco improvisado. 3 pints de Killkenny, Newcastle Ale e Guinness me ajudaram a dormir sem maiores preocupações com a apresentação do dia seguinte...
Quinta-feira era o 'grande dia', e já pela hora do almoço - eu seria o último a apresentar na primeira sessão da tarde - eu mostrava alguns sinais de nervosismo: era, afinal de contas, minha primeira vez numa sessão oral de uma conferência. Para ajudar, descobri que nossa sessão se realizaria no auditório principal, com algo em torno de 200 pessoas assistindo - contra os 20 ou 30 que eu havia 'planejado' quando fiz meu ensaio com o Peter. Na platéia, diversos coordenadores de grupos e alguns diretores de Institutos Max-Planck. Oh life. Me posiciono na posição de espera, recebo o headset com microfone, batem palmas para a sessão anterior, e o voluntário da organização me empurra pro palco: "Teus slides já estão na tela. Vai!"
"Erm, hrm.. hello, good afternoon. My name is Ricardo Wickert and I'll discuss some Quantum Error Correction codes we've been working with at the Max-Planck-Institute for the Science of Light in Erlangen...". Balbuciei um pouco no início; custou para engrenar num ritmo e falar com mais naturalidade. Mas os minutos passaram muito rápido, e quando eu estava começando a ficar à vontade, meu último slide encheu a tela com um "Thank you!" e as referências. Ufa. Algumas perguntas de alguns experimentais: "mas, você tem medidas para comparar?", ou "existe alguma forma de diminuir o número de canais empregados?", etc. A Chair da sessão agradece novamente, desligam meu microfone, e eu deixo o palco de volta para encontrar o resto do grupo.
Pessoalmente, acho que falei muito travado e que faltou entrelaçar o assunto de forma a tornar nosso resultado algo realmente cativante; mas todos os colegas do grupo me parabenizaram, o Peter também mostrou-se satisfeito; e durante o coffee-break, algumas pessoas vieram conversar comigo e fazer algumas perguntas, propor experimentos, etc. Talvez no final nem tenha sido tão ruim assim...
Depois de encerrada a última sessão daquela tarde, peguei umas cervejas junto à sessão de pôsters (sim! aqui, ao invés de café e água, oferecem Beck's para motivar os professores e alunos a conversarem mais) e, junto com nossos ICs Jason e Dominik, fomos comemorar a minha 'bem sucedida' apresentação em alguns bares da cidade. Uma cerveja aqui, uns mojitos ali, mais umas cervejas num outro bar numa rua badalada da cidade; voltamos para o hotel lá pelas 3h da madrugada, combinando já de antemão que não iriamos assistir as primeiras sessões da manhã seguinte...
Assiti, sim, as apresentações do final da manhã e da tarde, que trouxeram bastante material útil e possíveis contatos para desenvolver, conforme os rumos que minha pesquisa tomar. Após o encerramento, enquanto os colegas do grupo seguiam de volta para Erlangen, eu dirigi até Hannover. Lá encontrei meu pai, que veio para a Alemanha para a CeBit, a gigantesca feira de informática/tecnologia/indústria/serviços/etc que acontece anualmente na cidade. Enfim. Depois de cinco meses longe de casa, foi uma grande alegria encontrar o pai, colocar algumas conversas em dia, e mais tarde ainda recolher a Mia no aeroporto, para então sentarmos no bar do hotel e aproveitarmos uma pequena reunião em família do outro lado do oceano.
Por fim, no sábado, após um reforçado café-da-manhã numa padaria, fomos passear na feira graças aos convites-cortesia que o pai nos conseguiu (obrigado, Datacom e APEX!). Duas horas foram muito pouco para ver qualquer coisa em maior detalhe, mas deu para ter uma idéia da dimensão da feira. Um sanduíche rápido de almoço, e me despedi, pois precisava pegar a estrada para devolver o carro antes do final da tarde. Encontrei uma linda tarde primaveril na estrada, o que fez a viagem um tanto mais agradável (rá, eu preciso de um carro...). E assim começa março. Divagações sobre o mês e a estação na sequência...