IC 2022 de Frankfurt a Hamburgo. Em um trem do outro lado do planeta, e ainda três ou quatro centenas de quilômetros do que eu no momento chamo de 'lar'. A caminho de Herten, onde irei encontrar minha irmã, meus tios e primos para as festas de Natal. Uma sensação bastante interessante, como sempre.
Junto à esta sensação estão dois outros tópicos, interconectados, sobre os quais quero escrever: uma conversa que tive com Raffaele, nosso posdoc italiano, e uma passagem que acabo de ler no 'Guerra e Paz' de Tolstoy, que estou a ler nesta viagem.
Com Raffaele, almoçando no restaurante universitário da Universidade, discutíamos os possíveis caminhos de uma carreira científica. Mesmo tendo viajado ao estrangeiro para outros pós-doutorados e posições como professor assistente, ele optou pela sua família, e sentia que, ainda que ele pudesse ter avançado mais, não seria possível fazê-lo sem alguns sacrifícios que ele não estava disposto a fazer. Como já contemplei em uma ocasião anterior, pergunto aqui: estamos fadados a viajar constantemente, de cidade em cidade, país em país, para construirmos novas amizades e relacionamentos somente para, em algum ponto futuro, tornar a deixá-los para trás?
Monica me lembrou, mais de uma vez, que nunca é errado investir nas pessoas: conhecê-las e com elas interagir. Com certeza, é um ponto válido, mas: será que tais escolhas simplesmente não permitem que se invista tanto quanto poderia de outra forma ser possível? Meu último post não discutiu propriamente esta questão. Considero, no momento, uma possível estadia de longo prazo na Alemanha, mas ainda tenho expectativas que dizem respeito, principalmente, às minhas habilidades de comunicação, e até qual ponto desenvolverei amizades profundas (ou, porquê não, um relacionamento?). E ainda assim, continuo com esta angústia (AAAAAAAAAAAAAA!!!) pela idéia de ter deixado todos para trás. Ao mesmo tempo, não consigo me imaginar, hoje, não ficar desapontado caso no final eu finalmente concluísse estar tão preso a um lugar específico - até pois, de diversas formas, parece ser o lugar errado.
'Guerra e Paz' tem uma passagem onde Nicholas escreve para casa do front. Ele pede que saudações sejam enviadas, em seu nome, para familiares próximos e amigos, bem como sua prometida Sophia. Há cinco anos, eu estava neste mesmo trem a caminho dos meus tios, e tinha este compromisso para com meu antigo lar. Desta vez a cena não mais se aplica - e por mais doloroso que seja, tento me convencer que é melhor assim. Como fica agora?
The Whiskas' lifestyle, por bem ou por mal...
22.12.08
Direto do trem
By/por Whiskas at/às 18:10 0 comments/comentários
21.12.08
Under the grey bavarian sky
Hoje completo dois meses de Alemanha. Altos e baixos: começar um projeto de pesquisa completamente novo, numa área florescente, ainda por cima em um lugar como o Instituto Max Planck; conhecer pessoas novas e re-encontrar velhos amigos; ótimas cervejas em qualquer bodega da esquina; possibilidades ímpares para o ciclismo; enfim, uma porção de coisas que posso colocar na categoria dos 'altos'. Por outro lado, bate uma saudade, e com ela, vem uma certa dose de angústia existencial quando contemplo a possibilidade de que eu talvez esteja aqui para ficar. Muito tenho discutido sobre este assunto, e francamente, ainda não tenho uma posição definida. Mas tampouco preciso decidir agora...
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Depois de mais de um mês na universidade, o processo de familiarização com o tema está dando lugar a algumas indagações mais produtivas: 'o que acontece se eu mudar este parâmetro?', ou 'será que não há uma forma mais eficiente de calcular isso aqui?'. Nenhuma descoberta inovadora ainda; todavia já submeti o primeiro abstract para uma conferência, a reunião anual da divisão de Óptica Quântica da Sociedade Alemã de Física, que acontecerá em Hamburgo no início de março.
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Nesta última semana, comecei a treinar de forma mais ou menos estruturada, ainda que tenha me restringido ao rolo devido ao tempo lá fora. Ainda assim, uma hora de treino antes de ir para a faculdade já produz uma saudável dose de endorfinas para o resto do dia. Hoje, porém, depois de uma sessão longa no sábado, havia decidido que iria para a rua de qualquer jeito. Optei por um dos meus trajetos preferidos, Schwanstetten-Harrlach-Meckenlohe, cerca de 25km ao Sul de Nürnberg. Quatro horas e 110km depois, voltei para casa enxarcado, mas de alma lavada. Pedaladas no frio e na chuva exigem uma quantidade extra de energia, para manter o corpo aquecido - dessa forma, o resto do dia consistiu de uma exaustiva reposição calórica...
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Amanhã embarco para Herten, onde passarei o Natal na companhia da minha irmã, tios e primos. De lá ainda vem mais uma atualização; todavia, já deixo registrado aqui: um Feliz Natal para todos!
By/por Whiskas at/às 17:53 1 comments/comentários
7.12.08
Sobre a rotina e outros assuntos
Comecei a esquadrinhar uma resposta ao comentário do Kàzic no post anterior, mas esta estendeu-se a ponto de transformar-se num post próprio. Em primeiro lugar, deixo claro que rotina não precisa significar lugar-comum: basta examinarmos a sequência dos dias do Desafio, onde todos os dias a 'rotina' incluia atravessar o continente de bicicleta.
Quero, sim, um pouco de estabilidade no dia-a-dia para poder me concentrar no doutorado e nos treinos para a próxima temporada. É impossível conseguir isso tendo de se mudar uma vez por mês, ou sem saber se na semana seguinte irei trabalhar 20 ou 60 horas.
Existe também um fator macrotemporal, mas daí 'rotina' não é a palavra certa. Rotina refere-se a uma sequência de atividades realizadas 'todos os dias' ao longo de vários meses - e pode compreender programações bem pouco usuais. Por outro lado, alternar entre diferentes rotinas em períodos maiores pode ser igualmente desafiante e de forma alguma chata: a 'rotina' de estar sempre disposto a começar algo diferente, daqui a um ano, ou 5, ou... amanhã?
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Neste fim-de-semana, fui a Bamberg a convite do Michael**, meu colega aqui na república, que estava de aniversário no sábado, 6, também dia de São Nicolau. Depois de um jantar com todos a família - incluindo o melhor das cervejas da região, bem como os Schnapps preparados pelo pai dele - fomos para um clube no centro da cidade dançar e beber mais algumas. Só não voltamos para casa com o raiar do dia pois aqui, às seis horas da manhã, ainda é noite escura...
Voltamos para Erlangen na tarde de hoje (domingo), depois de dormir até o meio-dia e almoçarmos um tradicional almoço dominical com a família, seguido de chás e bolos. Reforço a minha necessidade intrínseca de fins-de-semana fora de casa, seja viajando, treinando, enfim: tais atividades dão outra perspectiva à semana que se inicia no dia seguinte...
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** Michael ganhou o apelido de 'Whiskas do Mal'. Como o Whiskas original, ele é alto, magro, vegetariano e possui certas tendências nerds. É viciado em café e aprecia boas cervejas e vinhos. Tem, inclusive, uma metodologia de programação bastante parecida com a minha (coisas que aprendemos discutindo algorimos depois de uma garrafa de vinho). 'Do mal' pois, ao invés de cursar Física, escolheu a Computação; fuma, não escondendo estar sob efeito do vício; e não tem paixão por esportes de resistência, preferindo virar noites em clubs de música eletrônica. Música que eu adoro, aliás, mas cujos clubes absolutamente não fazem meu estilo - ou, principalmente, meu horário.
By/por Whiskas at/às 21:10 1 comments/comentários