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(Para a letra da música que intitula este relato, veja o original.)
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Enquanto os alemães celebram sua vitória por um a zero no Tal Negócio de Futebol, uma infinidade de buzinas tocam, uma gritaria generalizada. Mas eu, longe de estar assistindo a partida junto à hordas de tedescos bêbados, estava acompanhando pela rede um evento muito mais interessante: a partida na quadra 18 de Wimbledon entre John Isner e Nicolas Mahut, que, ainda naquele segundo dia, já fazia história como a disputa mais longa da história do tênis, com mais de nove horas de duração.
Naquela mesma tarde, havia treinado com meu colega francês Cédric. Ao longo do nosso trajeto pelos arredores de Erlangen, discutimos como os motoristas estavam particularmente impacientes com nosso pedalar lado-a-lado (a lei aqui ordena que ciclistas andem em fila, mas isto é tipicamente tolerado se não for feito em avenidas ou estradas muito movimentadas). Concluimos que todos estavam tão nervosos pois queriam chegar logo em casa para assistir ao jogo. Futebol - ou talvez o fanatismo a ele associado - arrastam qualquer cultura e civilização a um estado terceiro-mundista desolável. E ainda por cima, todas estas manifestações nacionalistas que, em qualquer outra ocasião, serviriam de pretexto para uma nova Grande Guerra. Aff.
Se estou a torcer pela Alemanha, é somente pois a loja onde comprei meu novo notebook oferece um prêmio/desconto significativo se a seleção nacional retornar vitoriosa - e eu posso, de fato, usar uns euros a mais no meu orçamento. Ainda assim: apesar do meu ódio pelo futebol, sou capaz de dissimular interesse, nesses tempos de copa do mundo, principalmente pela manutenção de interações sociais menos polêmicas. Fora isso, estou cagando e andando.
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Neste último fim-de-semana, conquistei minha primeira vitória em solo europeu. Cronometrei 25m02s no campeonato aberto de contra-relógio de Straubling, pequena cidade às margens do Danúbio, no leste do estado. Pedalei a uma média de 47.2km/h, que foi suficiente para ganhar na Elite - o segundo lugar, Alex Biewald, levou quase um minuto a mais no mesmo trajeto, com 25m58s - mas ainda assim, foi uma vitória com um gostinho amargo, dado que dois atletas da categoria Master fizeram tempos melhores - mesmo que só um punhado de segundos: Jürgen Fuchs, que aparece no ranking como um dos 5 melhores do estado, fez 24m55s, enquanto Karl Aichner (10° lugar no Estadual, quase dois minutos à minha frente naquela ocasião), marcou o melhor tempo do dia: 24m54s.
Mas a corrida mais importante ainda estava por vir. O campeonato regional de contra-relógio da Francônia realizava-se nessa terça-feira. Esperava melhorar meu 3° lugar do ano passado, mas as coisas tomaram outro caminho. A agradável tarde de verão, com temperaturas amenas e tempo seco - ano passado a prova se desenrolou embaixo de chuva - influenciou não só meu tempo, mas também a participação no evento, com quase 180 ciclistas completando o percurso de 15.3km em forma de T, ao sul de Nürnberg. Além das minhas habilidades deficitárias nas duas curvas de 180° do trajeto - derrapei na primeira, e abri demais na segunda, quase entrando calçada adentro - faltou um ritmo mais forte, especialmente no trecho de subida dos últimos quilômetros. Consegui alcançar três ciclistas que largaram na minha frente, e ainda baixei em 18s meu tempo do ano passado (de 21m14s para 20m56s), mas com isso só consegui o 4° lugar, ficando de fora do pódium por 9s. Michael Schultz da equipe de Aichach, que abriu fuga comigo na clássica de Schrobenhausen no início da temporada, levou as honras, com Markus Beck e meu colega de equipe, Christoph Schwedt, completando o top 3.
Nada menos que 76 corredores tiveram médias iguais ou superiores a 40km/h, o que, dado o percurso acidentado em que a prova foi disputada, mostra o calibre do pelotão em uma prova regional típica. Olhando por este lado, minhas performances ao longo das últimas semanas - lançando ataques nas últimas voltas, e seguidas vezes abrindo fugas - não são inteiramente insignificantes. Mas ainda assim, sinto que os resultados não tem correspondido da mesma forma. Ainda preciso melhorar meu posicionamento e minha confiança para andar no meio do pelotão, para só então os resultados ficarem de acordo com aquilo a que as pernas são capazes...
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Passei algum tempo nos últimos dias folheando o Lonely Planet em preparação para minha viagem para a Austrália, daqui a três semanas. Depois da conferência, fico ainda mais uma semana por lá, em companhia de Benoit, colega francês do Instituto. De mochila nas costas, queremos explorar o que for possível neste tempo, que já parece ser demasiado curto. É de qualquer forma muito pouco tempo para atravessar o continente pedalando, e com os custos e incomodações associados ao transporte da bicicleta, não justificaria levá-la somente para uma prova de circuito por lá. Pelo jeito, a bicicleta só vai conhecer a Oceania mais tarde...
Ainda no assunto de viagens inter/transcontinentais, meu projeto de pesquisa para um semestre em Waterloo, Canadá foi aceito no início desta semana. Igualmente, não pretendo levar a(s) bicicleta(s) para lá quando agosto chegar: poucas corridas, e o outono/inverno se aproximando fizeram-me desistir da idéia. Ao invés de pedalar, vou procurar uma academia para malhar durante o inverno - e complementar com outras atividades - um tour de caiaque e algumas longas caminhadas estão nos planos, se o clima permitir.
Para ambas viagens, ainda preciso de uma mochila nova, talvez lentes novas para minha câmera, e alguns outros acessórios. Tantos brinquedos, e só uma bolsa...
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Duas semanas trás, acreditava ter encontrado um argumento muito convincente extendendo uma prova de impossibilidade para uma classe muito maior de estados. Tudo que faltava eram meras formalidades matemáticas, fisicamente tudo parecia fazer perfeito sentido. Esta semana, todos os cálculos parecem sugerir que encontrei uma exceção, e assim esta impossibilidade - na qual todos acreditavam, era dada como fato por todos nas últimas reuniões do grupo - não é verdadeira. Ainda estou no processo de revisão formal para garantir que nada passou desapercebido, mas se o algoritmo que propûs de fato funcionar como imaginado, será uma virada de mesa bem interessante para toda a área de códigos de correção de erro gaussianos...
Com resultados ou não, todavia, ainda tenho a impressão que meu formalismo é raso: tenho novas idéias constantemente, mas não consigo expressá-las propriamente com afirmações matemáticas propriamente definidas - ou ao menos, não com a desenvoltura que eu gostaria. Um paralelo com a situação no ciclismo não é difícil de ser traçado.
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Morando no meu próprio canto, eu às vezes me divirto com a vida de solteiro, com roupas de ciclismo por todos os lados, louça de alguns dias empilhada na cozinha, e isotônicos e cervejas a torto e direito. Mas também me orgulho muito de quão aconchegante e arrumado consigo manter o apartamento quando assim o desejo (ou preciso...). Como é de se esperar, estes dois estados se alternam, em ciclos que ultimamente tem sido de alguns dias para cada um. Igualmente alterno períodos nos quais passo bastante tempo em casa lendo, escrevendo, navegando ou cozinhando - e outros nos quais "casa" é só um lugar para dormir ou trocar de roupas, numa rotina que me leva do treino para o Instituto e de lá para algum bar e fins-de-semana nos quais mal paro em casa, graças a agenda pontuada de corridas...
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A vida que eu tanto esperava, e há tanto planejava. Talvez eu até devesse aproveitá-la um pouco mais... mas a Solidão do Corredor de Meio Fundo é assunto para um outro post.
26.6.10
Asleep on a Sunbeam, em português
By/por Whiskas at/às 18:43 1 comments/comentários
25.6.10
Asleep on a Sunbeam
(Aos leitores da língua de Saramago, informo que a este post seguir-se-á em breve sua tradução em português)
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Lying here asleep on a sunbeam
I wonder if you realise you fascinate me so
Think about a new destination
If you think you need inspiration
Roll out the map and mark it with a pin
I will follow every direction
Just lace up your shoes while I'm fetching a sleeping bag, a tent...
Another summer's passing by
All I need is somewhere I can feel the grass beneath my feet
A walk on sand, a fire I can warm my hands
My joy will be complete
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As the Germans celebrate their one-nill score in that Big Soccer Thing, horns abound. But, instead of joining hordes of drunk countrymen in watching the event, I was following live tickers from the much more interesting "Wimbledon Forever" match between Mahut and Isner, which had by then already made history with over nine hours of court time. That was sport.
That same evening, I had gone on a training ride with my French teammate Cédric; along our route through the outskirts of Erlangen, we discussed how the drivers were impatient with our two-abreast riding, and concluded: "everyone is so nervous because they feel they must get home before the match begins". Soccer - or rather the fanaticism associated with it - drags any culture down to the lowest standard possible. And don't get me started on these "nationalist feelings". Phew.
If I am cheering for Germany, is only because the shop from which I bought my new notebook is offering a significant cash-back should the Germans return victorious - and I could really use some extra euros in my budget. In spite of my soccer hatred, I'm able to fake interest pretty well for the sake of social interaction in these World Cup times, but otherwise, I couldn't care less.
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I scored my first victory in European soil this past weekend, stopping the clock at 25m02s in Straubling's open time trial championships. The resulting 47.2km/h average was enough for the first place in the man's Elite class - with second placed Alex Biewald almost a minute behind at 25m58s, but still a bittersweet win as two Masters' riders could better my time - even if only for a handful of seconds: Jürgen Fuchs, a top 5 rider in the state 40+ rankings, managed a 24m55s, while Karl Aichner, who placed 10th and beat me by almost two minutes in the Bavarian Championships, clocked the best time of the day: 24m54s.
The more important race for me was still to come, however: Franconia's time trial championships took place this Tuesday evening. I was looking forward to improving from my 3rd place last year, but it was not to be. The dry, mild early summer weather - compared to last year's rainy 15-ish degrees - had a noticeable influence not only on the times, but also on the turnout, with almost 180 starters for the T-shaped 15.3km course. In addition to my poor handling in the curves - skidding in the first, and overshooting the second 180° turn, I lacked a stronger rhythm in the uphill leg. I did overtake three cyclists which started before me, and still managed to shave 18s over last year's 21m14, but this year a 20m56 was only good for 4th place, missing the podium for 9s. Michael Schultz from Aichach, who I knew from a long breakaway in the Schrobenhausen spring classic, took the honors, with Markus Beck and my teammate Christoph Schwerdt rounding out the top 3.
No less than 76 riders managed a better-than-40km/h average in the quite undulating course, which shows the depth of the fields in a typical local race over here. Through this perspective, my performance over the past few weeks - launching attacks in the final laps, or consistently making the breakaway - is not entirely insignificant, but still, I feel that my results haven't been commensurately matching. There's still a lot of mental work to do before the scoreboards match the legs...
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Spent some time skimming through Lonely Planet's Australia guide in preparation for my upcoming trip down under. Can't make up the best way to explore everything I'd like in just under a week. It's definitively too short for another coast-to-coast cycling challenge; and even if just for one single circuit racing, it's an enormous hassle given the connections and my plans to go backpacking with Benoit. I guess I won't make it with a bicycle there until another later time...
Speaking of intercontinental traveling, the acceptance of my research proposal for a semester in Waterloo, Canada came in earlier this week. But I'm also not planning to fly (any of) the bike(s) over there come August: the sparse racing schedule, and the looming autumn, have discouraged it. Instead, I'll be facing some serious gym time over early winter - in addition to kayaking and hiking trips, weather permitting.
For both these trips, I must still buy myself a new rucksack, maybe some new lenses for my camera, and a few other accessories. So many toys, and just one scholarship...
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Two weeks ago, I believed I had come up with a very convincing argument extending a known impossibility proof to a much wider class of states. All that was missing were minor mathematical formalities; physically it seemed to make complete sense. Today, all calculations suggest I've found an exception and as such, this impossibility proof - in which everyone believed, and was all but settled in several internal group discussions - doesn't hold. A formal review is pending to see if my algorithm indeed works as depicted, but this would be a very interesting turn for the Gaussian quantum error correction tide.
With results or not, however, I still have the feeling that my formalism is shallow; new ideas flow in constantly, but I'm unable to direct them to properly defined mathematical statements - or at least not with the prowess I would like to. A parallel with cycling is not hard to find.
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Living in my own little apartment, I sometimes enjoy my bachelor lifestyle with cycling clothes all over the place, cookware from several days piled in the kitchen, and sports drinks and beers pretty much everywhere. I will also take pride in just how tidily cozy I can make everything when I want to. Predictably, these two states alternate - the cycles have been typically of a few days for each one. I also alternate periods in which I'm very much at home - independently of the apartment being in the organized or disorderly state - and will then extensively read, write, browse or cook - and others in which home is just the place I go for a change of clothes, as I hop from training to the Institute to some bar get-together...
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The life I had long hoped and planned for. Maybe I should even enjoy it some more., but the Loneliness of the Middle Distance Runner is yet another post.
By/por Whiskas at/às 22:41 1 comments/comentários