31.5.08

whiskas@ca #1

Mais uma série de relatos de mais uma viagem internacional; desta vez, estou a caminho de Montreal, no Canadá, onde participarei do workshop "Mathematical Methods of Quantum Chaos", no Centro de Pesquisas Matemáticas da Universidade de Montreal. Inicio este relato no saguão de embarque do aeroporto de Guarulhos, onde aguardo a chamada para embarque do meu vôo para Toronto.

Um breve retrospecto, para aqueles que não acompanharam o desenrolar dos acontecimentos que me trouxeram até aqui. Em setembro do ano passado, consegui meu primeiro resultado na linha de pesquisa com a qual estou engajado, demonstrando a contribuição das chamadas órbitas periódicas no espectro da condutância de um grafo; tal resultado foi refinado e, graças à um avanço bastante positivo obtido no início deste ano, foi possível estabelecer uma fórmula exata que resolvia o sistema. Tal é o assunto do trabalho que, na forma de um pôster, irei apresentar por lá. Esperamos agora estender tal linha de raciocínio para outros grafos, e já há indícios bastante favoráveis que tal generalização é possível e, mais importante, tangível num futuro próximo.

Pois bem. Avançamos rapidamente para o início desta semana, quando o último rascunho do já mencionado pôster foi apresentado ao, e subsequentemente aprovado pelo, meu grupo de pesquisa, sendo imediatamente após encaminhado para impressão. Ontem ainda levei-o ao campus para mostrar o resultado impresso, que ficou bastante bonito, devo acrescentar.

Com um rascunho da minha mala já pronto na minha cabeça, celebramos ontem à noite uma pequena "despedida" com algumas pizzas e vinho. Hoje, tratei de implementar a bagagem que havia planejado, cuja execução só não foi mais tranquila por eu descobrir, no final da manhã, que meu vôo partiria às 12h30, e não 13h22 como a reserva inicial havia planejado. Pois bem, tratei de rapidamente encerrar a mala-bike, um banho a jato, e estava a caminho do aeroporto, onde encontrei meu pai para lhe entregar o carro e me despedir.

Como a sorte o teria, fui informado que meu vôo estava lotado, com a atendente do balcão desculpando-se por ter de postergar meu embarque para o vôo das 15h - na verdade, uma troca ideal, pois permitiu-nos almoçarmos com calma... No final das contas, graças aos atrasos decorrentes do mau tempo em São Paulo e do nevoeiro em Porto Alegre pela manhã, o vôo partiu com quase uma hora de atraso, e com a escala em Curitiba, cheguei aqui em São Paulo perto das 18h30 - desta forma, com muito menos tempo ocioso para entediar-me pelo aeroporto. Com as baganges já despachadas, restou-me fazer um pequeno lanche antes de sentar, ao lado do portão de embarque, para escrever este relato...

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Vôo tranquilo, num 767 reformado da Air Canada, com um esquema de luzes de cabine coloridas, algo um tanto psicodélico.. conforme iamos voando, mudavam de luzes brancas (normais) para um tom azulado.. depois luzes vermelhas, laranjas.. verdes.. até que escureceram para a noite. Um assento meio apertado na janela, um jantar vegetariano da classe executiva, não posso me queixar. Fiz imigração e alfândega em Toronto, e depois de pouco tempo, a conexão para Montreal, que saiu pontualmente no horário. Chovia bastante quando cheguei, então preferi não me arriscar pelo sistema de shuttle-metrô-ônibus e optei por pagar uns dólares à mais para vir de táxi para a residência da Universidade. Aqui chegando, desfiz as malas, montei a bicicleta, tomei um bom banho, e saí em busca do almoço - acabei comendo um Subway numa esquina aqui do lado, como voltou a chover, preferi não caminhar até o centro.

Na volta para "casa", uma parada num mercadinho para comprar artigos de primeira necessidade, e qual não é minha surpresa - as avenidas estão bloqueadas, motos passam com sirenes ligadas, e um pelotão com mais de 50 ciclistas passa voando do meu lado. Como eu prontamente havia esquecido, hoje é a etapa de Montreal da Copa do Mundo de ciclismo feminino, com direito às equipes da Menikini-Selle Italia, Cervelo-Life Force, Nürnberger Versicherung e da High Road, enfim, a trupe completa. Estou assistindo a corrida aqui da janela do meu quarto; mais tarde devo subir na bike para pedalar até a chegada (a prova desenrola-se num circuito de 10km, que faz o contorno no campus da U de M e no parque do Mont-Royal, aqui do lado). Enfim - nem bem cheguei, e já comecei bem :)

28.5.08

Rainy days and mondays...

... never get me down! Quite to the contrary.

It wasn't raining on Monday, as it rains today, but it doesn't matter. As I greeted Monica wishing her a good day, a sparkling glimpse of geniality brought me to one of the recent time's most important conclusions, which I now share. Behold: "If you don't like Mondays, change your life."

One may then discuss if it really is that simple. Over the course of the past ten years, I've worked to put myself in a position where Mondays are days I look forward to - just like, in fact, every other day of the week, come rain or shine.

People who work forty-hour weeks - sometimes in addition to attending college and other chores - tend to have a hard time grasping that another life concept is indeed possible. I insist that one can maintain a healthy family, relationships, pay the bills and keep the obligations, and still allow for a less stressful weekly routine - perhaps even with some fifteen-odd hours of cycling thrown in :)

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Finished third in Sunday's Arroio do Meio race, with my team mate Lucas taking the 2nd place just behind Startec/DTool's Arlizegar Moreira. The race was marred by a crash in the final curve, with Roberto Rodrigues (Acivas/Beto's Bike) trying to cut Joao Polo (Santa Ciclismo) from the inside, sliding and taking him on the way down. Both finished, despite bruises. On the way back, we celebrated the 2-3 double with some well-earned pizza.

Yesterday, I presented my poster draft one last time for the group's approval, before sending it up to the printing shop, where I picked it up today. Looks good, which I hope will help generate some discussion around our results. Flight leaves in less than 48h, which means I have plenty to do regarding trip preparations. Catch ya later!

22.5.08

As esperas

Uma ótima corrida no último domingo, em Campo Bom, terminando na terceira colocação contra o que foi talvez um dos melhores pelotões do ano. Foi um excelente incentivo à moral, abalada com o acidente em Bento Gonçalves e o incidente mecânico em Gravataí. A corrida também celebrou o encerramento do segundo ciclo de preparação específica, o quê, em bom português, significa que os principais treinos já foram. Resta agora aguardar e, nas próximas três semanas que antecedem o Campeonato Brasileiro, realizar apenas alguns treinos de manutenção para consolidar a forma. Tento manter-me razoável quanto às expectativas, mas uma certa ansiedade já me é aparente.

No início do mês, iniciei minha candidatura à uma vaga de doutorado na Ludwig-Maximilians-Universität de Munique. Na semana passada, foram enviadas as cartas de recomendação que fazem parte do processo seletivo - e novamente aqui, aparentemente só me resta aguardar.

Em outras notícias: na próxima sexta-feira viajo para uma semana em Montreal, onde apresentarei alguns resultados no workshop de "Aspectos Matemáticos do Caos Quântico". Hoje fiz um pequeno ensaio para o nosso grupo de pesquisa com o material que preparei; levantamos muitas discussões, e espero que através da iteração com os participantes da conferência, possamos dar nova luz aos nossos estudos.

Por fim, neste domingo acontece o 2o Troféu Arroio do Meio de Ciclismo, prova que disputarei na condição de vencedor da edição anterior. Provavelmente minha última corrida antes do Brasileiro...

12.5.08

I should.. I will

Falando de DVDs com o Pedro, chego a conclusão que eu preciso assistir mais filmes. Tem muita cultura na 7a arte que eu não tenho acompanhado. E ler mais. Cada vez que eu passo pela estante de livros do meu avô, eu acho algum título interessante que digo "este eu ainda hei de ler".

E cantar mais. Isto eu tenho feito muito, dirigindo ouvindo e cantando e dançando. Dançar mais também, aliás, fora do carro, de preferência - aqui entra a reclamação-padrão da falta de um lugar com música boa, que comece a tocar cedo, e do qual eu possa sair sem me sentir um cigarro ambulante. Mas enfim. Começar a pintar. Algumas aquarelas, ou alguns desenhos à lápis em folhas grandes. Comprarei um cavalete alguma hora dessas.

Assisto um pouco da RAI procurando a transmissão do Giro d'Italia, e acrescento à lista aprender italiano. Ma che bello! E outras línguas talvez menos populares. Virão, no seu devido tempo... E as aulas de arco-e-flecha, para as quais já estou atrasado.

4.5.08

Faster, faster, the lights are turning red!

Maybe I don't know where I'm heading; but if I'm going fast enough, then perhaps it won't matter and all will eventually make sense.

Maybe it's better for me not to go philosophical right now :) And yet sometimes I do try and stop to reflect upon my choices. Sometimes they make me proud; sometimes, just plain stupid. Not a good policy to regret the last ones; but one should try and learn from such decisions and improve them on a next occasion, if a remedy is for the present not an alternative.

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Igrejinha was a great, miserable race. Temperatures on the 15 degree Celsius mark, winds and rain, lots of rain. I made the mistake of going directly from my rollers warm-up to the 'underwater' start line, and the temperature shock took its toll. Breathing was hard, and after a while I had my legs on the verge of cramping up. Even though I launched the winning attack, I couldn't hold the pace and ended up letting Rui Barbosa (Startec/DTools) and Roberto Rodrigues (Acivas/Beto's Bike) escape up the road, battling to hold my 3rd place from Daniel Salazar (APEG/MCN), who was chasing behind. I managed to, but just barely. My teammate Lucas outsprinted Leonardo Maraschin (Acaci/UCS) for the final podium placing. All in all, pretty much another sunday in hell.

Back home, after a warm shower, a late lunch and some ciesta, I enjoyed a nice concert (Dvorak, which was great, together with Skalkottas and Britten who I didn't knew). Wrapping up, the traditional Pale Ale at the Mulligan Pub to celebrate the race results.

And, life in the fast lane, here comes Monday!

3.5.08

Chove lá fora...

Aproveitei o feriado de 1o de maio para um excelente pedal até Linha Brasil. Temperatura na casa dos dez graus, excelente nas subidas, talvez um pouco frio com o vento que fazia nas descidas. Tive a companhia do Rocca e da Carol que, depois de me encontrarem em Nova Petrópolis, me acompanharam até o sítio, onde comemos um risoto de tomates secos regados a um Reservado Concha y Toro. Uma ciesta obrigatória, e no caminho de volta esbaldamo-nos na Padaria Petrópolis, com direito a salgados, doces, café e muitos quitutes mais. Dirigimos de volta ao som da eclética trilha sonora do Rocca.

Subi novamente na sexta-feira, desta vez de carona com meu pai; a bicicleta havia ficado lá, aproveitei para trazê-la. Na volta, outra vez a parada obrigatória na Padaria para fartar-se com as guloseimas. O dia terminou com pizza, vinho e "Paris, Texas" no DVD.

O treino de hoje foi cancelado devido a chuva - Porto Alegre está aparentemente embaixo d'água. Rodei uma hora no rolo ao som de Aerosmith, depois almoço, ciesta, navegando a esmo - a preguiçosa rotina de um sábado antes de uma competição.

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Chega disso por hoje. Hora de um quentão, um livro, e uma tarde com os amigos. So long!

Auto-análise, parte n

Definir algo como "mediano" soa bastante melhor que "medíocre". A performance em Gravataí foi, portanto, mediana. Não consegui fazer a seleção ("make the selection", traduzam como quiserem) no serrito onde 8 atletas escaparam, mas fora isto, não posso me queixar do desempenho nos 140km da primeira etapa, tendo inclusive atacando diversas vezes próximo da chegada, infelizmente sem sucesso. Fiquei um tanto decepcionado com a performance no contra-relógio - tão logo iniciei minha corrida nos 6km daquela etapa, senti que as pernas não corresponderiam, ainda impregnadas do ácido láctico produzido pelo esforço do dia anterior. Ainda assim, fiz o 7o melhor tempo, com direito ao comentário jocoso que fiz ao meu pai tão logo meu tempo foi superado: "Pelo menos eu nunca fui suspenso por um exame anti-doping.." Rogelin e Nilceu que o digam... Na etapa de circuito, estava contente em andar junto com o pelotão e defender minha posição no top 15 da classificação geral, quando no meio da prova, levei meu câmbio dianteiro a cometer suicídio, o que me levou mais cedo para o chuveiro. "Live to fight another day", escrevi.

O ponto que me deixou bastante meditativo, porém, foi o fato do campeão brasileiro, usando uma bicicleta de estrada sem auxílios aerodinâmicos, ter cronometrado um tempo quinze segundos mais rápido que o meu, com minha magnífica Cervelo, ainda que realmente eu não estivesse em um dia bom. Nem quero entrar no mérito das substâncias que ele poderia estar consumindo; tem vários amadores aqui do estado que tomam isso ou aquilo e isso já não me incomoda. O ponto que faço aqui se refere à disputa de um atleta amador que treina talvez 10 ou 15 horas por semana contra um profissional que é pago para fazer isso e provavelmente tem o dobro de tempo no selim. Estaria eu dando murros em ponta de faca? Apesar da constatação da dura realidade, não se alteraram em nada meus objetivos. Ainda pretendo ir para o Brasileiro lutar pelo melhor resultado possível.

Iniciei uma divagação sobre a dualidade, ou a pluralidade, o conciliar de mais de uma atividade de alto nível em uma vida de outra forma normal. Só na montagem desta frase já tenho diversos ganchos para puxar: o que é conciliar? Encaixar as atividades nas 24 horas do dia é plenamente possível, mas descobri há tempos que não funciono sem alguns obrigatórios momentos ociosos. De alto nível? Quão alto é alto o bastante? Ganhar corridas no certame amador é só médio, certo? E a produção científica? Preciso ter um artigo na PRL para poder considerar meu trabalho de mestrado como "de alto nível"? Por fim, uma vida normal - sob os parâmetros de quem?

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Minha Renn 575, a roda fechada que encomendei para correr o Brasileiro, chegou na casa do Benjamin. Estou agora a tratar da melhor forma de trazê-la para cá. Me lembrei daquela clássica pergunta, "Casar ou comprar uma bicicleta?" - a resposta que escolhi parece ser bastante óbvia :)